Uma peça, Uma história

“Uma Peça, Uma História” é uma iniciativa do Museu de Portimão que pretende dar a conhecer objetos relevantes das suas coleções, e que não estão habitualmente em exibição.

 

Máquina e cartão de “stencil”Máquina e cartão de “stencil”

Máquina e cartão de “stencil”

Esta máquina, uma “Ideal Nº 2 Diagraph”, em exposição no percurso “A Vida Industrial e o Desafio do Mar”, foi durante muito tempo indispensável na indústria conserveira. Criada em finais do século XIX, este modelo foi produzido em Belleville, Illianois, pela Ideal Stencil Machine Cº.

Era empregue para vazar letras e números em “cartões”, com os quais se marcavam os caixotes de madeira e as caixas de cartão, onde eram arrumadas as latas de conservas para comercialização.
Esta legenda podia ser posta na caixa na altura do embarque, mesmo antes ou depois dos fiscais do IPCP (Instituto Português de Conservas de Peixe) procederem ao controlo do lote de conserva.

Calafetar da embarcaçãoCalafetar da embarcação

Calafetar da embarcação

No estaleiro o calafate tem a importante tarefa de vedar o barco, através do preenchimento das suas costuras com estopa, auxiliado por um maço "cantante" e ferros de gornes.

"A estopa vem em bruto e depois (...) é aberta, desfiada para fazer um véu. Depois é torcida, vai-se ligando uma à outra, muito ao de leve aqui em cima das pernas. (...). Faz-se um rolo daquilo e está preparada para calafetar. (...) Há uns ferros, uns têm um modelo, outros têm outro: um é para meter estopa e outro é para dar aperto. Com um maço de madeira, bate-se no ferro e a estopa é ali bem apertada. Depois há outro homem para dar a massa, a costura é tapada e depois o barco é pintado."
José Gregório, serrador em Monchique

Cafeteira de soldarCafeteira de soldar

Cafeteira de soldar

No princípio era a cafeteira de soldar…

As cafeteiras de soldar aquecidas a carvão, foram os primeiros utensílios usados pelos soldadores para proceder ao fecho das latas de conserva, sendo mais tarde substituídas pelos ferros a gás, mas mantendo o chumbo como produto para a solda.
Com a revolução industrial, este sistema lento e manual seria abandonado para passar a ser mecânico, através das cravadeiras dez vezes mais rápidas e mais benéficas para a saúde, por evitar o uso do chumbo.
Esta profunda alteração na vida dos soldadores, que levou à sua extinção enquanto importante e decisivo grupo, considerada uma elite operária, deu origem a greves e a lutas para tentar impedir a entrada destas máquinas, nas fábricas de conserva.

TinteiroTinteiro

Tinteiro

Uma simples caixa de madeira onde se colocava o pó azul, funcionava perfeitamente como tinteiro para a marcação da linha de corte dos troncos de madeira, nos estaleiros de Portimão.

"No estaleiro (...) o tronco era alinhado e marcava-se a espessura das tábuas que a gente queria tirar.(...)" José Gregório, serrador em Monchique
"Nós usávamos um tinteiro feito num bocado de madeira rectangular mais ou menos com 25 cm, onde se fazia dois buracos quadrados, um de cada lado. Metia-se água e almagre, que com uma esponja se misturava e se passava por uma linha de lã(...), feita numa dessas máquinas da cordoaria, para se alinhar.”
César Lopes, carpinteiro naval

As socasAs socas

As socas

Depois do toque do apito, ou das sirenes das fábricas de conservas de peixe, uma correnteza de gente iniciava o seu percurso pelas estradas e caminhos, empenhados em chegar a horas ao trabalho. A caminhada era compassada pelo ruidoso matraquear das socas das mulheres, que se prolongava depois para os espaços fabris, após se picar o cartão no relógio de ponto. Com raízes profundas nos contextos de trabalho rural, as socas ou tamancas, feitas de madeira e couro, eram o calçado obrigatório das operárias, devido à sua durabilidade e boa proteção do pé do contacto com o solo, a água e detritos. A aquisição das socas, bem como o seu custo era da responsabilidade das operárias.
Serra braçalSerra braçal

Serra braçal

A serra braçal marca um tempo em que o trabalho na madeira se fazia de forma sobretudo manual, ao ritmo cadenciado dos braços humanos. O corte dos troncos era feito com esta ferramenta.

(...) "Para serrar a madeira, era com as serras braçais: Um dos homens trabalhava por cima, de pé, sobre o toro, o outro por baixo, por vezes de joelhos. O que está em cima anda para trás e o que está em baixo anda para a frente. A serração do tronco era feita a quatro tempos: dois cortes a direito, um por cima e outro por baixo”.
José Gregório, serrador em de Monchique

Prensa litográfica da Júdice FialhoPrensa litográfica da Júdice Fialho

Prensa litográfica da Júdice Fialho

A prensa litográfica era uma máquina fundamental no processo de criação das provas litográficas e na decisão da ilustração final a imprimir na folha de flandres, a partir da qual se fabricava a lata.

Na litografia, o desenhador fazia o desenho da marca da lata, primeiro em papel e depois passava-se esse desenho para a pedra litográfica. Depois, da pedra litográfica tiravam-se as cópias, para fazer os transportes, com uma prensa. Havia a separação das cores, que havia latas que levavam uma, duas, três e quatro cores. O transportador picotava o desenho da pedra numa cartolina, com papel celofane e goma. Depois era prensado, era decalcado na folha de zinco.
Lourival Arez (Litógrafo)

Sonda de Chumbo RomanaSonda de Chumbo Romana

Sonda de Chumbo Romana

Do conjunto de sondas do património arqueológico subaquático que se encontram no Museu, destacamos a que se encontra na exposição “Portimão Território e Identidade” no percurso Origem e Destino de Uma comunidade.

Os métodos de navegação desde sempre implicaram uma necessidade de conhecimento dos fundos marítimos. Desde a antiguidade que utilizavam técnicas que, a partir da superfície, iam desde o simples “varar” até à utilização de sondas de chumbo. Através da concavidade existente na parte inferior desta sonda, na qual se colocava resina, era possível trazer à superfície uma pequena mostra de sedimento do fundo do rio e assim conhecer a sua composição de forma a evitar obstáculos ao curso da embarcação.
Esta peça é resultante de prospeções realizadas nas areias resultantes das dragagens do Rio Arade e depositadas na Praia dos Careanos. Foi recolhida por elementos do Projeto IPSIIS.

As Conservas “La Rose”As Conservas “La Rose”

As Conservas “La Rose”

Há 112 anos, na antiga Fábrica de Conservas “Feu Hermanos”, onde hoje se encontra o Museu de Portimão, nascia a marca de conservas de peixe “La Rose”, a qual deixou de ser produzida nos anos 80, após o encerramento desta unidade industrial.

A fama e prestígio que esta marca adquiriu ao longo de décadas levaram a que em 2014, a marca “La Rose” voltasse a ser produzida através da empresa conserveira “Ramirez”.

Guindastes Marion do Porto de PortimãoGuindastes Marion do Porto de Portimão

Guindastes Marion do Porto de Portimão

Em fevereiro de 1947, num comboio especial composto por 12 vagões, chegavam à estação de caminho de ferro de Portimão, as peças e materiais destinados à montagem dos dois guindastes “Marion 1” e “Marion 2” que, a partir de 1948, iniciaram as operações de carga e descarga no Porto de Portimão, substituindo os anteriores movidos a vapor.

A palavra “Marion”, localizada nas traseiras da sua cabine, está diretamente relacionada com a cidade norte-americana Marion, no Ohio, onde em 1884 se instalou a empresa “Marion Steam Shovel Company” que os fabricou. Foi igualmente a esta companhia que o governo americano recorreu para o fornecimento das grandes escavadoras necessárias à construção do Canal do Panamá.
Tendo como finalidade assegurar e dinamizar a importante atividade comercial e industrial da região, o emblemático Guindaste “Marion 2” sofreu um processo de recuperação integral e integração museológica, sendo hoje uma importante peça do nosso património industrial, salvaguardando a necessária manutenção das referências históricas , sociais e culturais de Portimão.

Busto de um romano em bronzeBusto de um romano em bronze

Busto de um romano em bronze

De leilão em leilão, esta peça de Teixeira Gomes chega ao Museu de Portimão.

Ao longo do seu intenso percurso de vida pela Europa e Norte de África, na transição entre o século XIX e XX (1860-1941), Manuel Teixeira Gomes foi reunindo um significativo conjunto de peças decorativas e objectos de arte, que lhe moldaram uma outra sua faceta, porventura menos conhecida mas igualmente peculiar, como coleccionador, designadamente de pintura, escultura e artes decorativas.
É o caso do busto de um romano em bronze, com base em mármore do século XVIII, o qual seria licitado por Teixeira Gomes, num disputado leilão da Christie’s, presenciado por Urbano Rodrigues, que igualmente haveria de assistir à sua desembalagem na delegação portuguesa em Londres, onde esta escultura iria permanecer durante a presença do diplomata portimonense, enquanto representante de Portugal na Inglaterra. E é precisamente noutro leilão em Lisboa que, em 2006, esta peça é licitada para o Museu de Portimão e hoje se exibe no núcleo "Manuel Teixeira Gomes-Viajante, Político e Escritor”, da sua exposição principal.

Vai-VemVai-Vem

Vai-Vem

Andavam os cestos num “vai-vem“ contínuo!!

Directamente dos barcos, inicialmente dos buques e mais tarde das enviadas, a sardinha saía do porão das embarcações para a fábrica S.Francisco dos “Feu Hermanos", e igualmente para a maioria das outras fábricas, situadas nas margens do rio Arade, através de cestos de vime transportados por um sistema mecânico, em movimento contínuo, mais conhecido por “vai-vem”.
Eles iam cheios para a “casa de descabeço” e aí dentro, antes que tornassem a sair, um operário mudava-os rapidamente para um outro “vai-vem” para que, ao passarem sobre as mesas, serem despejados de forma a fornecer a matéria-prima, para as operárias iniciarem imediatamente a primeira fase do processo de fabrico das conservas.
Ao reconstituir o antigo pontão e o “vai-vem” do transporte dos cestos, no seu local de origem, o Museu de Portimão procurou contribuir de forma museográfica e simbólica para uma melhor perceção desse inicial percurso ribeirinho, associado à história do mundo do trabalho marítimo e industrial, a que Portimão está profundamente ligado.

Será meio-dia ou meia-noite, neste relógio de ponto?Será meio-dia ou meia-noite, neste relógio de ponto?

Será meio-dia ou meia-noite, neste relógio de ponto?

Depois de apitar a sirene das fábricas, era no relógio de ponto que se “picava” o cartão para marcar a hora das entradas e saídas das fábricas de Portimão. Enquanto houvesse peixe fresco nas mesas da “casa do descabeço”, a hora de entrada e saída era incerta, fosse meio-dia, meia-noite ou qualquer outra hora do dia , pois só assim se garantia a qualidade das conservas. “Marcávamos de manhã, marcávamos quando vínhamos do almoço e depois marcávamos à tarde e quando voltávamos ao serão. Marcávamos o cartão para ficar marcada a hora a que entrávamos e saíamos.”

Eram tempos duros e difíceis, onde os atrasos na hora de entrada de homens e mulheres se pagavam caro com horas ou dias de suspensão de trabalho e de salário.
Mas antes do relógio de ponto, outros eram os métodos de assinalar a entrada no trabalho, como o caderno onde se encontravam assinalados os nomes dos operários, que o mestre ia chamando e a que se respondia com um “presente” ou “estou aqui”, a lembrar os tempos de escola. Um outro método de chamadas eram as chapas, “uma espécie de redondela”, que se passavam de um quadro para outro assinalando as entradas e saídas da fábrica.”

Áureus de FaustinaÁureus de Faustina

Áureus de Faustina

No dia 23 de Outubro de 1970, e no decurso das dragagens do porto de Portimão, era divulgada a notícia da descoberta “de dois barcos possivelmente romanos naufragados do século II, no porto de Portimão” e dos inúmeros vestígios trazidos à superfície, destacava fragmentos de cerâmica, peças de metal e uma moeda de ouro.

Quarenta e três anos depois de ter sido descoberta no fundo do rio Arade, a moeda de ouro romana, classificada como sendo uma “Aureus” de Faustina, do século II, regressa a Portimão, para integrar a título definitivo as coleções do Museu de Portimão.
Esta moeda, designada “aureus”, foi cunhada entre os anos de 152 e 156 d.C., durante a vigência de seu pai, o Imperador Antonino Pio.
No inverso, mostra o busto de Faustina à direita, com o cabelo ondulado, apanhado sobre a nuca; apresenta a legenda FAUSTINA AUG. P II AUG FIL, ou seja, Faustina Augusta Pia, filha de Augusto, título ostentado pelo Imperador em curso, Antonino Pio.
No reverso, uma pomba caminhando e a legenda CONCORDIA.

Máquina litográficaMáquina litográfica

Máquina litográfica

A máquina litográfica francesa “Voirin”, integrada no percurso expositivo do museu “A vida industrial e o desafio do Mar”, pertenceu à antiga litografia Júdice Fialho, de Portimão. Foi uma peça fundamental para imprimir na folha-de-flandres, as coloridas imagens e marcas dos milhares de latas das conservas daquele industrial, não apenas das suas fábricas de Portimão e Ferragudo, mas de todas as unidades que possuía no País.

Nesta máquina trabalhavam cerca de seis homens: o marginador metia a folha metálica na máquina, o impressor procedia à impressão das suas várias cores (uma cor de cada vez), outros dois homens metiam as folhas nos carros depois da impressão e os restantes dois retiravam os carros cheios, levando-os para a estufa e substituindo-os por outros vazios.
O horário de trabalho era das oito da manhã às cinco horas da tarde, com uma hora de intervalo para o almoço.

AnforetaAnforeta

Anforeta

Anforeta, ou Spanish Olive Jars, da época moderna (datação aproximada entre séc. XVI/XVII), destinada a conter azeite.

Recuperada em Portimão, do leito do Rio Arade em Junho de 2011, pela Divisão de Arqueologia Náutica e Subaquática (IGESPAR, I. P.), com a colaboração do Museu de Portimão (MP) e do Grupo de Estudos Oceânicos (GEO).
Sabia que o Laboratório de Conservação e Restauro do Museu de Portimão mantém esta peça, mergulhada em água, para tratamento de dessalinização (remoção total em várias águas, dos sais absorvidos ao longo do período de cerca de 400 anos, em que esteve no fundo do rio)?

Utensílios para a confeção de doçaria | Pastelaria AlmeidaUtensílios para a confeção de doçaria | Pastelaria Almeida

Utensílios para a confeção de doçaria | Pastelaria Almeida

Este funil e tacho, doados ao Museu de Portimão, em 2004, por Conceição Almeida, foram durante vários anos usados na confecção dos fios de ovos, presentes em diversos doces tradicionais algarvios, confeccionados na antiga Pastelaria Almeida.

Com origem numa produção doméstica para família e amigos, a pastelaria Almeida abriu a porta, junto à zona ribeirinha de Portimão, em 1931, tornando-se uma referência de qualidade da doçaria regional.
Fotografia: Paulo Barata

Garrafas de vinho | Cooperativa de PortimãoGarrafas de vinho | Cooperativa de Portimão

Garrafas de vinho | Cooperativa de Portimão

Garrafas de vinho tinto, datadas de 1974 e de 1989, produzidas pela antiga Adega Cooperativa de Portimão. Estes exemplares de 75 cl têm um teor alcoólico de 12,5% e revelam uma forte relação com o património local, ao apresentar nos seus rótulos, imagens da ponte ferroviária de Portimão (garrafa de 1974) e do Convento de S. Francisco (garrafa de 1989).

As garrafas mais antigas foram oferecidas ao Museu de Portimão, por Clemente Camarinha e por João Reis respectivamente em 12 e 28 de Maio de 2012, e têm a particularidade de terem sido produzidas no ano da revolução dos cravos. Quanto ao exemplar de 1989, foi adquirido no ano seguinte, aquando da abertura da primeira grande superfície comercial de Portimão, pelo casal Hélder Cadete e Maria Cecília Dias, o qual decidiu igualmente oferecer ao Museu, em 2 de Maio de 2012.
Encerrada em 1997, a adega de Portimão foi projetada em 1958, pelo arquitecto António Vicente Castro, com uma forte expressão modernista na organização dos espaços e formas.

“Traineiras” | 1955 - Óleo sobre tela | José Augusto (1922-2005)“Traineiras” | 1955 - Óleo sobre tela | José Augusto (1922-2005)

“Traineiras” | 1955 - Óleo sobre tela | José Augusto (1922-2005)

Este quadro faz parte de um conjunto de 24 obras do legado artístico do pintor e gravador José Augusto, doado em 2010 ao Museu de Portimão, pela sua mulher Maria Gabriel.

Natural de Portimão de onde partiria aos 14 anos, José Augusto, transportou para o seu trabalho elementos do ambiente marítimo da sua terra natal, o brilho das águas do Rio Arade, as velas, os mastros e as formas dos barcos, presentes no quadro das “Traineiras”.


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